tag:blogger.com,1999:blog-81955393312053679702024-03-07T18:48:52.287-06:00O Brinde e a FavaO único blog actualizado nos dias terminados em 3 e 7.Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.comBlogger23125tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-28413539283301925072007-04-07T13:37:00.000-06:002008-12-08T21:46:53.657-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTe9Hp3iHM26Usrgk_TnzNPvlgwY4x9ARRTOIWds5GIwT469bIRVcZHYTXnhC5zdwkgxyVFOKO5Kze6hR0UHG8rVwpwkumDAQaim2eSjhJvL8PEunytQUvyVZaxVPVrBsmRrgbpSQOiaE/s1600-h/TheEnd.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5050664061138426386" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTe9Hp3iHM26Usrgk_TnzNPvlgwY4x9ARRTOIWds5GIwT469bIRVcZHYTXnhC5zdwkgxyVFOKO5Kze6hR0UHG8rVwpwkumDAQaim2eSjhJvL8PEunytQUvyVZaxVPVrBsmRrgbpSQOiaE/s400/TheEnd.bmp" border="0" /></a><br /><div></div><div> </div><div> </div><div><br /><br />É um final provisório, mas a ausência será longa. Meses...</div>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-1399012901591117072007-04-03T00:11:00.000-06:002008-12-08T21:46:55.066-06:00<strong><span style="font-size:180%;">BRINDE</span></strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGFsDBvBkXdyr6fK-tiQYu1M6oPAcGukjBZE_gSwmVSHz8tXvrRJxp5daUa897_7z-qEqt1NSL8BqBaRCzF-LO_PoWFaipUy1Fserc5uOXopblNOyy-ATz4iUWveae8Hq8_HieFUunEUU/s1600-h/knWORDS_main,0.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5048971331689341474" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGFsDBvBkXdyr6fK-tiQYu1M6oPAcGukjBZE_gSwmVSHz8tXvrRJxp5daUa897_7z-qEqt1NSL8BqBaRCzF-LO_PoWFaipUy1Fserc5uOXopblNOyy-ATz4iUWveae8Hq8_HieFUunEUU/s400/knWORDS_main,0.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br />Entre nós e as palavras há metal fundente<br />entre nós e as palavras há hélices que andam<br />e podem dar-nos morte violar-nos tirar<br />do mais fundo de nós o mais útil segredo<br />entre nós e as palavras há perfis ardentes<br />espaços cheios de gente de costas<br />altas flores venenosas portas por abrir<br />e escadas e ponteiros e crianças sentadas<br />à espera do seu tempo e do seu precipício<br /><br />Ao longo da muralha que habitamos<br />há palavras de vida há palavras de morte<br />há palavras imensas, que esperam por nós<br />e outras, frágeis, que deixaram de esperar<br />há palavras acesas como barcos<br />e há palavras homens, palavras que guardam<br />o seu segredo e a sua posição<br /><br />Entre nós e as palavras, surdamente,<br />as mãos e as paredes de Elsenor<br />E há palavras nocturnas palavras gemidos<br />palavras que nos sobem ilegíveis à boca<br />palavras diamantes palavras nunca escritas<br />palavras impossíveis de escrever<br />por não termos connosco cordas de violinos<br />nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar<br />e os braços dos amantes escrevem muito alto<br />muito além do azul onde oxidados morrem<br />palavras maternais só sombra só soluço<br />só espasmo só amor só solidão desfeita<br /><br />Entre nós e as palavras, os emparedados<br />e entre nós e as palavras, o nosso dever falar<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Mário Cesariny, <em>Pena Capital</em>, 1957)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA</span></strong><br /><br /><br />Recebi uma vez um <em>mail</em> com uma lista de nomes portugueses bem engraçados e outra lista de nomes brasileiros ainda mais engraçados (uns até mesmo completamente ridículos). É certo que me diverti, mas fiquei a pensar se existiria, de facto, gente que se chamasse assim! Hoje tenho quase a certeza de que aquele <em>mail</em> talvez não fosse criação de alguma cabeça fantasiosa e com um extraordinário sentido de humor. Tenho até pena de já não saber dele.<br /><br />Há algum tempo, decidi investigar no terreno. Fui folheando a Lista Telefónica Margem Sul 2003/04 e, na verdade, passei ali uma boa hora de gargalhadas. Eu tinha de tirar isto a limpo! Não é por desrespeito de modo nenhum por estas pessoas, mas não vou mais conseguir manter esta lista apenas para mim (já a guardo há alguns anos, como podem ver).<br /><br />Abaixo segue o rol das <em>graças</em> (em duplo sentido) destes senhores, acompanhado pelos números de páginas onde cada nome figura (que é para dar maior credibilidade):<br /><br /><br />António José Cagaita (69)<br /><br />Celeste Céu (477)<br /><br />Gertrudes Domingas Conhita (318)<br /><br />Jean Alexandre Testagrossa (220)<br /><br />Joana Broa Calhota (469)<br /><br />João Batista Papafina (544)<br /><br />Jorge Pila Zé-Zé (630)<br /><br />José Frasco Queimado (555)<br /><br />José Simões Cagica (69)<br /><br />Jovita Quitéria Azevedo (460)<br /><br />Ludovina Maria Penso (547)<br /><br />Manuel Campaniço Isqueiro (128)<br /><br />Manuel Vicente Borda d’Água (311)<br /><br />Maria Alzira Penica (547)<br /><br />Maria Benvinda Pendrelica (281)<br /><br />Maria Silva Cagarelho (69)<br /><br />Miguel Zonga Zonga (363)<br /><br />Norberto Carneiro Cabrito (468)<br /><br />Samuel Fontes Palhaço (280)Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-17124305623567273742007-03-27T00:20:00.000-06:002008-12-08T21:46:55.384-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ4v2U1UpuvLAZJc38IUmPfcFklSNRAk_oR86kHMT-urxv9Az3Q-2HUzafXc2WP8XaDINcWZwtjT5dN1Jru_Rsk1FG2k7YyYS9J4Wgpvb_JhM1awB0aRvSVUf9EuLvNv-Ho22TyKy6O8U/s1600-h/179473.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5046376396362134498" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ4v2U1UpuvLAZJc38IUmPfcFklSNRAk_oR86kHMT-urxv9Az3Q-2HUzafXc2WP8XaDINcWZwtjT5dN1Jru_Rsk1FG2k7YyYS9J4Wgpvb_JhM1awB0aRvSVUf9EuLvNv-Ho22TyKy6O8U/s400/179473.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><div><strong><span style="font-size:180%;">BRINDE<br /></span></strong><br /><br /><strong>Canção</strong><br /><br />Sol nulo dos dias vãos,<br />Cheios de lida e de calma,<br />Aquece ao menos as mãos<br />A quem não entras na alma!<br /><br />Que ao menos a mão, roçando<br />A mão que por ela passe,<br />Com externo calor brando<br />O frio da alma disfarce!<br /><br />Senhor, já que a dor é nossa<br />E a fraqueza que ela tem,<br />Dá-nos ao menos a força<br />De não a mostrar a ninguém!<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Fernando Pessoa, <em>Ficções do Interlúdio 1914 – 1935</em>)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA</span></strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCqVoV5gW_egV2P3Zo3T87yqS1IwMLtT8HuyWYVfd2SHfoqDvqHvBq7yb6Kb-D-1q0UWgefPoc-Tcx91CwJZS0Th-H2-prxq7zjGHcv7E6JuhHjcmbkJJ3hsvWCEW3qwiGUI7rhlDiWXM/s1600-h/é+de+aproveitar.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5046358026787009474" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCqVoV5gW_egV2P3Zo3T87yqS1IwMLtT8HuyWYVfd2SHfoqDvqHvBq7yb6Kb-D-1q0UWgefPoc-Tcx91CwJZS0Th-H2-prxq7zjGHcv7E6JuhHjcmbkJJ3hsvWCEW3qwiGUI7rhlDiWXM/s400/%C3%A9+de+aproveitar.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br />Ah!... Que pena!... A promoção do café queimado já deve ter acabado...</div>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-26786976845418119622007-03-23T20:37:00.000-06:002008-12-08T21:46:55.524-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKnIG8ke25wgJgu6hO8932wkXRsVLLs_avFarNw_yFqfar83vGf4-nm-QUZ91oF_eX-JtAHF4goD8915XKpBCZR3L2n2v2DQVw5xHY6M9jk8POgclidTRpm8tC_crEZJ6G5PDcX9JXGQo/s1600-h/dali-2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5044898201398961074" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKnIG8ke25wgJgu6hO8932wkXRsVLLs_avFarNw_yFqfar83vGf4-nm-QUZ91oF_eX-JtAHF4goD8915XKpBCZR3L2n2v2DQVw5xHY6M9jk8POgclidTRpm8tC_crEZJ6G5PDcX9JXGQo/s400/dali-2.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-size:78%;">(<em>La persistencia de la memoria</em>, Salvador Dalí, 1931,</span><br /><span style="font-size:78%;">óleo sobre tela, Museu de Arte Moderna, Nova Iorque)</span><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;"></span></strong><br /><strong><span style="font-size:180%;">BRINDE</span></strong><br /><br /><br />(…)<br />Procede, portanto, caro Lucílio, conforme dizes: preenche todas as tuas horas! Se tomares nas mãos o dia de hoje conseguirás depender menos do dia de amanhã. De adiamento em adiamento, a vida vai-se passando.<br />Nada nos pertence, Lucílio, só o tempo é mesmo nosso. (…)<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Séneca, <em>Cartas a Lucílio</em>, I, 1)</span><br /><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA</span></strong><br /><br /><br /><strong>Arqueologia História Possível</strong><br /><br />condenado das leis e sem<br />outra defesa que os lábios emudeceu subitamente.<br />vendido escravo pró Brasil, o Pe. A.V.<br />o iluminou na fé cristã & misericórdia.<br />José Ignacio Pombo: injusto también y bárbaro el derecho<br />que se cobra en cada venta de los escravos.<br />Es un derecho sobre los hombres.<br />Mas guardou (hoje o sabemos) crenças<br />selvagens & a impiedade natural das origens,<br />alheio à salvação espiritual e progresso na via do culto.<br />y él grava también<br />sobre la agricultura,<br />os ombros tremiam-lhe por dentro devagar. Fugido<br />em novembro dois, de 1804<br />& entregue a estas autoridades cinco meses passados<br />& cortadas as mãos em culpa de furto,<br />morte, e hábitos (dizem) viciosos que uma missão<br />não extirpou completamente,<br />habitava em comunhão carnal contra natura,<br />adorando ídolos, dado a bruxedo & feitiçaria.<br />Los 38800 pesos producto de novillos, y<br />mulas vendidas en Jamayca, reducido a<br />negros comprándolos a 215 pesos<br />dan…………………………….152<br />Agravado de conhecedor dos princípios morais<br />& catecismo, & civilização, & instruído<br />no conhecimento da língua e costumes,<br />ajudado que fora pelo Pe. A.V. e outros<br />no caminha da Redempção;<br />será obligación precisa,<br />y personal de los Curas, aplicar todos los dias festivos<br />la Misa, por el pueblo, explicarle el evangeglio<br />antes de esta, y la doctrina cristiana por la tarde<br />& com reconforto das unções Xtãs<br />foi decepado em Abril 20, de 1805 depois<br />de lhe cortadas as regiões<br />por exemplo maior que guardem<br />as populações & extirpe costumes bárbaros<br />& incitamento à fuga.<br />(tremiam-lhe<br />os ombros ao de leve, por dentro.<br />Levava no peito uma medalha redonda de cobre;<br />ferido nas costas de uma bala rés-vés.<br />Estando o sol mto forte & o tempo húmido<br />apodreceu rapidamente o corpo).<br />Por derechos de marca de 263 negros<br />a 40 pesos cada uno…………10520.<br />Por 6% de muertos, y gastos sobre<br />los 71070 pesos en total……4260.<br />Producto líquido de los negros………56230.<br />Tremiam-lhe os ombros porque tinha medo<br />& sinais das estrelas mau presságio, & vira<br />mortos os companheiros antes de ser preso,<br />& estando sozinho<br />lhe parecia a morte mto difícil.<br />(ao de leve, como<br />por dentro. E ao ser castrado<br />abriu a boca como se falando, como<br />se fora gritar, mas não se lhe ouviu voz,<br />enquanto cerrava os olhos %& uma lágrima<br />escura lhe escorria o suor dos lábios)<br />Logramos la fortuna<br />de tener un Soberano,<br />Padre verdadero<br />y amante de sus vasallos,<br />foi a enterrar no campo maior por<br />despesa ordinária,<br />(ao de leve)<br />& os filhos, que tivera, entregues<br />ao cuidado de seu legítimo<br />proprietário.<br />Si a estos se agregan los derechos de alcabala de venta, y<br />reventa en estos negros; el aumento de frutos, y<br />consumos, que dan, subirán mucho las utilidades, que produce<br />esta negociación, al Rey, a los interesados y a la Província.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(António Franco Alexandre, <em>Poemas</em>)</span>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-66427253745428112232007-03-17T14:18:00.000-06:002008-12-08T21:46:55.693-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-VLEeTuqNxFWbwN8t0Rd6iFFH7XnFVJ3JwTGoNeQ6XHjbOf2DyqpB47pQzZ177OTdTPDznaiJZ-kcOqq7159CTeSPLuTn4-Vb5x487OqV7dZYCWqsSRg15k6rg9iKhKKmI5-9maMVuqQ/s1600-h/Lovers_Night_by_Feebaum.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5043270605244614866" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-VLEeTuqNxFWbwN8t0Rd6iFFH7XnFVJ3JwTGoNeQ6XHjbOf2DyqpB47pQzZ177OTdTPDznaiJZ-kcOqq7159CTeSPLuTn4-Vb5x487OqV7dZYCWqsSRg15k6rg9iKhKKmI5-9maMVuqQ/s400/Lovers_Night_by_Feebaum.jpg" border="0" /></a><br /><div> </div><div><br><br /><strong><span style="font-size:180%;">BRINDE</span></strong><br /><br /><br /><strong>O Noivado do Sepulcro</strong><br /><br />Vai alta a lua! na mansão da morte<br />Já meia-noite com vagar soou;<br />Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte<br />Só tem descanso quem ali baixou.<br /><br />Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe<br />Funérea campa com fragor rangeu;<br />Branco fantasma semelhante a um monge,<br />D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.<br /><br />Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste<br />Campeia a lua com sinistra luz;<br />O vento geme no feral cipreste,<br />O mocho pia na marmórea cruz.<br /><br />Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto<br />Olhou em roda... não achou ninguém...<br />Por entre as campas, arrastando o manto,<br />Com lentos passos caminhou além.<br /><br />Chegando perto duma cruz alçada,<br />Que entre ciprestes alvejava ao fim,<br />Parou, sentou-se e com a voz magoada<br />Os ecos tristes acordou assim:<br /><br />"Mulher formosa, que adorei na vida,<br />"E que na tumba não cessei d'amar,<br />"Por que atraiçoas, desleal, mentida,<br />"O amor eterno que te ouvi jurar?<br /><br />"Amor! engano que na campa finda,<br />"Que a morte despe da ilusão falaz:<br />"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda<br />"Do pobre morto que na terra jaz?<br /><br />"Abandonado neste chão repousa<br />"Há já três dias, e não vens aqui...<br />"Ai, quão pesada me tem sido a lousa<br />"Sobre este peito que bateu por ti!<br /><br />"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,<br />A fronte exausta lhe pendeu na mão,<br />E entre soluços arrancou do seio<br />Fundo suspiro de cruel paixão.<br /><br />"Talvez que rindo dos protestos nossos,<br />"Gozes com outro d'infernal prazer;<br />"E o olvido cobrirá meus ossos<br />"Na fria terra sem vingança ter!<br /><br />– "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda<br />Responde um eco suspirando além...<br />– "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda<br />Formosa virgem que em seus braços tem.<br /><br />Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,<br />Longas roupagens de nevada cor;<br />Singela c'roa de virgínias rosas<br />Lhe cerca a fronte dum mortal palor.<br /><br />"Não, não perdeste meu amor jurado:<br />"Vês este peito? reina a morte aqui...<br />"É já sem forças, ai de mim, gelado,<br />"Mas inda pulsa com amor por ti.<br /><br />"Feliz que pude acompanhar-te ao fundo<br />"Da sepultura, sucumbindo à dor:<br />"Deixei a vida... que importava o mundo,<br />"O mundo em trevas sem a luz do amor?<br /><br />"Saudosa ao longe vês no céu a lua?<br />– "Oh vejo sim... recordação fatal!<br />– "Foi à luz dela que jurei ser tua<br />"Durante a vida, e na mansão final.<br /><br />"Oh vem! se nunca te cingi ao peito,<br />"Hoje o sepulcro nos reúne enfim...<br />"Quero o repouso de teu frio leito,<br />"Quero-te unido para sempre a mim!"<br /><br />E ao som dos pios do cantor funéreo,<br />E à luz da lua de sinistro alvor,<br />Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério<br />Foi celebrada, d'infeliz amor.<br /><br />Quando risonho despontava o dia,<br />Já desse drama nada havia então,<br />Mais que uma tumba funeral vazia,<br />Quebrada a lousa por ignota mão.<br /><br />Porém mais tarde, quando foi volvido<br />Das sepulturas o gelado pó,<br />Dois esqueletos, um ao outro unido,<br />Foram achados num sepulcro só.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Soares dos Passos, <em>O Noivado do Sepulcro</em>)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA</span></strong><br /><br /><br /><strong>Das Coisas que Competem aos Poetas</strong><br /><br />Nas terras onde os sinos andam pelas ruas<br />há horas surdas sós e sem cuidados<br />há mar condicionado ao possível verão<br />e vendem-se manhãs e mães por três ideias<br />Nas terras onde a música é o fogo de artifício<br />a camioneta curva a carga sob os plátanos<br />e à sombra dos lacrimejantes carros<br />o gato dorme a trepadeira sobe<br />o soba grita nunca ninguém sabe<br />a erva cresce e as crianças morrem<br />o mar aceita chão a mão do sol<br />Que plural deplorável o da magna agência mogno<br />E nas tílias há riscos dos vestidos de retintas raparigas<br />e o dente resistente número quarenta cheira a pepsodent<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Ruy Belo, <em>Todos os Poemas</em>)<br /></span></div>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-86301962422284125502007-03-13T10:19:00.000-06:002008-12-08T21:46:55.876-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB5VWQHXJVLRNoA0Yhknu34nEDlxD-iM9y3XfqZsQPn6AolXVxP82Wdx87chU-BGTW7hSh0M5JFPeWF2U7kQIuCv8j0Jn5Evlb8K906s9csg3v1tJEZhbhwd10xTwBNxXvlhmklVqIrFM/s1600-h/tropfen.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041171692180554626" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB5VWQHXJVLRNoA0Yhknu34nEDlxD-iM9y3XfqZsQPn6AolXVxP82Wdx87chU-BGTW7hSh0M5JFPeWF2U7kQIuCv8j0Jn5Evlb8K906s9csg3v1tJEZhbhwd10xTwBNxXvlhmklVqIrFM/s400/tropfen.jpg" border="0" /></a><br /><div><br /><div><span style="font-size:180%;"><strong></strong></span></div><br /><div><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE </strong></span><br /><br /><br />(…)<br />Outras vezes oiço passar o vento,<br />E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.<br />(…)<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Alberto Caeiro, <em>Poemas Inconjuntos</em>, A Espantosa realidade das coisas)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA<br /></strong></span><br /><br /><strong>Um Prato de Sopa</strong><br /><br />Um prato de sopa um humilde prato de sopa<br />comovo-me ao vê-lo no dia de festa<br />e entro dentro da sopa<br />e sou comido por mim próprio com lágrimas nos olhos<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Ruy Belo, <em>Todos os Poemas</em>)</span></div></div>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-52551620500760464912007-03-07T13:52:00.000-06:002008-12-08T21:46:56.184-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTnyZ7VemLY7T_qqR4TnvFK31s1-tU_jsAGaZHRGh1xzXgwYmyVPJWmYSYjZNaosECvFGT8nDage73lhSR1NQ4T7WUm68CLp-OVBxV-YXql7t3AVcDYLpTXNLUEe8N9QwSQcYVG62OpyM/s1600-h/grecian.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5038898449457175090" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTnyZ7VemLY7T_qqR4TnvFK31s1-tU_jsAGaZHRGh1xzXgwYmyVPJWmYSYjZNaosECvFGT8nDage73lhSR1NQ4T7WUm68CLp-OVBxV-YXql7t3AVcDYLpTXNLUEe8N9QwSQcYVG62OpyM/s400/grecian.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-size:180%;"><strong></strong></span></div><br /><div><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE</strong></span><br /><br /><br /><strong>Navio Naufragado</strong><br /><br />Vinha dum mundo<br />Sonoro, nítido e denso.<br />E agora o mar o guarda no seu fundo<br />Silencioso e suspenso.<br /><br />É um esqueleto branco o capitão,<br />Branco como as areias,<br />Tem duas conchas na mão<br />Tem algas em vez de veias<br />E uma medusa em vez de coração.<br /><br />Em seu redor as grutas de mil cores<br />Tomam formas incertas quase ausentes<br />E a cor das águas toma a cor das flores<br />E os animais são mudos, transparentes.<br /><br />E os corpos espalhados nas areias<br />Tremem à passagem das sereias,<br />As sereias leves de cabelos roxos<br />Que têm olhos vagos e ausentes<br />E verdes como os olhos dos videntes.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Sophia de Mello Breyner Andresen, <em>Obra Poética I</em>)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA</span><br /><br /><br /></strong></div><div></div><div><strong>Tríptico Nómada</strong><br /><br /><strong>III — Veneza, Travessia</strong><br /><br />porque amanhece, subindo<br />a casa calcária, súbitas asas espalhadas<br />no silêncio da rocha: o próprio asco<br />da água calcinada, a curva líquida de merda<br />à beira do palazzo,<br />& o doce ventre onde uma espiga ardente<br />jorra na piazza o céu dentro dos vidros.<br />suba a cà foscari! os dentes<br />ácidos de sementes quebradas, il manifesto<br />deitado sobre a cama, junto ao sexo.<br />desabotoando a camisola verde, dizia «os braços,<br />& na porta de areia os turistas pacientemente esmagavam<br />o papel dos chuveiros. dizia, «o torso,<br />& eu sentia, no quadrado cerrado, o suor<br />escorrido dos lábios. dizia, «a neve,<br />algures o vento,<br />& as lajes molhadas, um resto de cinza<br />contra os olhos,<br />enquanto as asas se despiam, vagarosas.<br />porque amanhece. almoço de bataglia<br />c/ spaghetti.<br />mrs. stone roendo as implacáveis unhas.<br />a mão que dobra, lenta, a dobra dos cabelos.<br />a flor pousa no pássaro. miragem. quase noite.<br />vago, de hashish, o acre<br />minuto de falar. dizia, «ninguém,<br />& o quarto quebrado, as mesas onde o mundo<br />pousa os dedos, porque<br />certamente amanhece, dizia, «o medo,<br />& o ombro levantado ameaçava os dias.<br />invento. a água,<br />o testículo de ouro,<br />a lâmina das folhas. Invento. na bicicleta verde,<br />pousava sobre o pêlo: a flor.<br />& o quarto quebrado, a franja das falanges<br />sobre a curva das asas.<br />a pálida brancura das gavetas.<br />o crânio do silêncio contra a mesa. in<br />vento. manhãs, quando se parte, de dentro<br />das esquinas, dizia, «o sol,<br />algures o sangue,<br />& as mãos espalhavam a pele, cobriam<br />cuidadosas os ossos, o lençol.<br />noite fora crescia a bicicleta verde,<br />de cornos espetados sobre o olhar deserto.<br />esmagava, no peito, o papel das sementes. dizia, «o ar,<br />& repartido o trigo, amanhecia.<br />a casa, escura. a relva incendiada. e por dentro<br />da luz, a seiva do calcário. miragem. invento.<br />o sol partido em dois. azul. e quase noite<br />os degraus encardidos, a cama onde adormece<br />o moedeiro falso.<br />colar a boca aos passos, o desejo.<br />devagar se despindo; dizia «o mar,<br />algures os astros,<br />& a boca amealhava o ouro ardido.<br />invento. o ombro de água,<br />a ruga onde começa<br />a brancura das asas. horizontal respira.<br />a carne mansa, do calor da relva<br />deitada sobre a cama, junto às lajes.<br />uma manhã, invento, dentro da chuva, erguido<br />sobre a cinza, dizia «quase noite,<br />então amanhecia.<br />ao fundo, longe, vê: a poeira nos pulsos,<br />& a mão se dobra, lenta, no travão das rodas.<br />despindo em torno o ar, dizia, «o dia,<br />& os aviões roncavam sobre a areia.<br />subindo o céu de vidro,<br />a casa desertada, ao longe<br />a cúpula dos sinos, a névoa de são marcos.<br />ventre que a noite invade,<br />madrugador o pão dos embarcados. não invento.<br />papel de azul, as asas. um fio cortado a vento.<br />inclinado nos olhos, olhava. inclinado nas unhas,<br />olhava, dizia «amanhece,<br />porque amanhecia.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(António Franco Alexandre, <em>Poemas</em>)</span> </div>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-9296081674608413572007-03-03T00:16:00.000-06:002008-12-08T21:46:56.385-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIZUBEDvGZzZ8YhmfmRJRldSZ5y2kmDVkVrKX8ZXR0-0jKabmJNQ-J8yGmHD7XYk68HJHETdy7vDj-DVYiMROlAnMhnAdwcS9FI9OAdEIFB8yTBlcWMkHvkTotKd81fzwB9O_wq8lD_ko/s1600-h/amor-vicit-omnia.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5037479927189642370" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIZUBEDvGZzZ8YhmfmRJRldSZ5y2kmDVkVrKX8ZXR0-0jKabmJNQ-J8yGmHD7XYk68HJHETdy7vDj-DVYiMROlAnMhnAdwcS9FI9OAdEIFB8yTBlcWMkHvkTotKd81fzwB9O_wq8lD_ko/s400/amor-vicit-omnia.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="font-size:180%;"><strong></strong></span></div><br /><div><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE</strong></span><br /><br /><br /><strong>Paisagem</strong><br /><br />Passavam pelo ar aves repentinas,<br />O cheiro da terra era fundo e amargo,<br />E ao longe as cavalgadas do mar largo<br />Sacudiam na areia as suas crinas.<br /><br />Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,<br />Era a carne das árvores elástica e dura,<br />Eram as gotas de sangue da resina<br />E as folhas em que a luz se descombina.<br /><br />Eram os caminhos num ir lento,<br />Eram as mãos profundas do vento<br />Era o livre e luminoso chamamento<br />Da asa dos espaços fugitiva.<br /><br />Eram os pinheirais onde o céu poisa,<br />Era o peso e era a cor de cada coisa,<br />A sua quietude, secretamente viva,<br />E a sua exalação afirmativa.<br /><br />Era a verdade e a força do mar largo,<br />Cuja voz, quando se quebra, sobe,<br />Era o regresso sem fim e a claridade<br />Das praias onde a direito o vento corre.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Sophia de Mello Breyner Andresen, <em>Obra Poética I</em>)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA</strong></span><br /><br /><br /><strong>Tríptico Nómada</strong><br /><br /><strong>II – Paris, Sumário</strong><br /><br />1<br />paris, o ar, a traqueia<br />vertida,<br />dormir em pé nos bancos<br />(lénine) do parque ratazana<br />: dormir pelo sofá<br />(freud) do Hotel do Brasil ao 6°<br />andar sem as-<br />censor<br />de olhar tão lentamente a pedra, o rio, a folha,<br />que o fio ao dissolver-se trans<br />pareça<br />a pura forma de ar, íris, parure<br /><br />2<br />paris, o desemprego. açorda de gente em pasmo,<br />cenoura matinal & mal cozida.<br />acertar a samarra ao apito do campo<br />(campo)<br />onde bois, esterco, o ventre hospitaleiro,<br />a machada de cobre à entrada das alfândegas.<br />passo a mão no teu rosto repensando<br />que nos resta comer a mão do céu<br />ou, microscópica, a vaca do deleuze.<br /><br />3<br />paris, astrologia. antes da lei: a regra<br />de estar juntos no mar interno à veia:<br />diz-se (lei<br />bniz) do compossível.<br />sofre, traqueia, o golpe<br />das dedadas no chumbo:<br />esperando Saturno no quadrante de Vé<br />nus.<br /><br />4<br />volta, paris, à terra prometida: jerus<br />além de garra<br />fão & diner’s club:<br />que o fio ao dividir-se<br />transpareça<br />em sua sombra a pedra, a folha,<br />o rio.<br /><br />5<br />paris, bosque de vin<br />scènes dez da manhã:<br />de tal i qual no brr<br />aço, & no pinheiro<br />cartazes délecê.<br /><br />6<br />asa sem paz (aro), migrante: de empire<br />state no bolso azul de cheviote,<br />édipo duro dura, assobiando<br />madra-goa em chicago, bar-d(o)<br />e máfia.<br /><br />paris, ocasional: pele da pele, e-<br />terna, acaso um salto:<br />a dança: íris de riso, um rio.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(António Franco Alexandre, <em>Poemas</em>)<br /></div></span>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-65633669323024408572007-02-27T00:30:00.000-06:002008-12-08T21:46:56.653-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6yrYbkfQzuf0xmSAQWiw4DwJhkVzF6HrgbCLlBIlNdDy3xBAJOa7rL7P46Q1dyRl70jcIo3n4DuSQnkTPn_68lUOh8dFENXzhAPPJEEzgdYMYEPXG4WoeaOwwpP0IU5ZC_mnFw0YPy8A/s1600-h/Water%20-%20transparent.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5036004275204028690" style="CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6yrYbkfQzuf0xmSAQWiw4DwJhkVzF6HrgbCLlBIlNdDy3xBAJOa7rL7P46Q1dyRl70jcIo3n4DuSQnkTPn_68lUOh8dFENXzhAPPJEEzgdYMYEPXG4WoeaOwwpP0IU5ZC_mnFw0YPy8A/s400/Water%2520-%2520transparent.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE<br /></strong></span><br /><br /><strong>Às Vezes</strong><br /><br />Às vezes julgo ver nos meus olhos<br />A promessa de outros seres<br />Que eu podia ter sido,<br />Se a vida tivesse sido outra.<br /><br />Mas dessa fabulosa descoberta<br />Só me vem o terror e a mágoa<br />De me sentir sem forma, vaga e incerta<br />Como a água.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Sophia de Mello Breyner Andresen, <em>Obra Poética I</em>)</span><br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA<br /></strong></span><br /><br /><strong>Tríptico Nómada</strong><br /><br /><strong>I – Nova Iorque, Um<br /></strong><br />1<br />outras manhãs<br />molha o papel na cinza dizendo: «os meus,<br />ninguém que adivinhasse a mesa rasgada, as meias<br />balões verdes de areia pesando ao contrário dos olhos ao<br />pénis, demasia fácil.<br /><br />2<br />descruzando o mostrador, para passar<br />o lápis partido a meio da boca<br />«seios, igualmente desertos<br />na quadragésima segunda rua<br />anos: ardendo<br />as botas, de cavalaria<br /><br />3<br />não tocamos na vaca<br />lenço preso à narina mais branca<br />o cuspo manchou todas as vitrinas<br />sentando-se, que o sangue apodrece<br />o arame dos testículos<br />apareceu por acidente adormecido<br />na janela com chuva<br /><br />4<br />ou que não gira, mas<br />uma palpitação colada aos seios da cama<br />o polícia negro maneja a ventoinha sobre<br />retratos, uma moldura mostrando<br />a lápis, assinado rembrandt.<br /><br />5<br />alimentando-se, outras<br />de aço fundido atrás dos anjos<br />desabotoando as rosas no urinol azul<br />helicóptero justamente às 5 e trinta apertando<br />a narina mais larga contra o peito<br />dos arranha-céus<br />«a boca,<br />urna pedra acaba de cair muito mais tarde.<br /><br />6<br />por lentidão ou por ser<br />o olho da vaca acende e apaga lápis<br />aparados no televisor uniformernente liso<br /><br />o perfeito animal<br />entre as coxas do peixe suor branco<br />alheio à solidão.<br /><br />7<br />por times square o tempo de virar<br />uma narina ao lado do silêncio<br />alisando as verrugas molha na cinza<br />o pénis da hora<br />na vitrina inconsolável presidente violeta<br />«são sensíveis,<br />animal perfeito, ninguém que descubra<br />o enxame inclinado nas axilas<br /><br />8<br />a boca abre-se em duas cores com<br />plementares acrílicas ligeiramente so<br />brepostas;<br />a chávena na ponta do braço direito a<br />vança hesitando e o líq<br />uido quente enfia no buraco da carne<br />uma lufada de casas intermitentes<br />«pequeno almoço em tiffany’s».<br /><br />9<br />apenas o ar, dedos<br />enfiados no anel manejando o arame visível, até<br />as fezes do néon finalmente dissolvem<br />penumbra, o cacho «meramente,<br />aperta nos lábios uma saliva incómoda<br /><br />10<br />espalhando o alcatrão por sobre a zona<br />entre as nádegas o cuspo mais facilmente seca<br />a viúva que o gelo conservou sem perca<br />«ao frio,<br />outras<br />agarrando nos dentes a pedra portátil<br />espera que o mundo caminhe ao contrário<br />em direcção ao esperma deixado<br />vagina sem mãe.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(António Franco Alexandre, <em>Poemas</em>)<br /></span>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-62756988354883633242007-02-23T23:38:00.000-06:002008-12-08T21:46:56.794-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI49k6CxKGdb3sOQ3Q-daPrKcCJmGmDYrPi1A7DPR7hOQ2LsC6Zb1wpuyJrOtwqOwzR3ZkFxFhLLxoupxKbIXchVStVSjRyh9myqhsP02DEPle_-pu7APMwHhRWiBBfPPbXvlCpuxWdnc/s1600-h/The+fall+of+the+Giants,+Giulio+Romano.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5034873668013029618" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI49k6CxKGdb3sOQ3Q-daPrKcCJmGmDYrPi1A7DPR7hOQ2LsC6Zb1wpuyJrOtwqOwzR3ZkFxFhLLxoupxKbIXchVStVSjRyh9myqhsP02DEPle_-pu7APMwHhRWiBBfPPbXvlCpuxWdnc/s400/The+fall+of+the+Giants,+Giulio+Romano.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-family:times new roman;font-size:78%;">(<em>The Fall of the Giants</em>, Giulio Romano, 1526-34, Fresco, Palazzo del Tè, Mântua)<br /></span><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE<br /></strong></span><br /><br /><strong>Primeiro<br />Ulisses<br /></strong><br />O mito é o nada que é tudo.<br />O mesmo sol que abre os céus<br />É um mito brilhante e mudo –<br />O corpo morto de Deus,<br />Vivo e desnudo.<br /><br />Este, que aqui aportou,<br />Foi por não ser existindo.<br />Sem existir nos bastou.<br />Por não ter vindo foi vindo<br />E nos criou.<br /><br />Assim a lenda se escorre<br />A entrar na realidade,<br />E a fecundá-la decorre.<br />Em baixo, a vida, metade<br />De nada, morre.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Fernando Pessoa, <em>Mensagem</em>, <em>Os Castelos</em>) </span><br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA<br /></strong></span><br /><br /><strong>Na Praia</strong><br /><br />Raça de marinheiros que outra coisa vos chamar<br />senhoras que com tanta dignidade<br />à hora que o calor mais apertar<br />coroadas de graça e majestade<br />entrais pela água dentro e fazeis chichi no mar?<br /><br />(Ruy Belo, <em>Todos os Poemas</em>)Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-33627108264848817062007-02-17T21:40:00.000-06:002008-12-08T21:46:56.932-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkD13EhfhcEsid0_fSMHUXQYZK-t9iQk6MxT6gomrcLQBXwH_oxt6B8YEQnb7rnmg4xErUOqAOe6WPMQ1a2yHkzOK-Rq-OGIFa-CGBO4sUPiyxTqYAfKOvt15oyWSeLc1UR5EcQLD98qM/s1600-h/sem+título5.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5032614300747105394" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkD13EhfhcEsid0_fSMHUXQYZK-t9iQk6MxT6gomrcLQBXwH_oxt6B8YEQnb7rnmg4xErUOqAOe6WPMQ1a2yHkzOK-Rq-OGIFa-CGBO4sUPiyxTqYAfKOvt15oyWSeLc1UR5EcQLD98qM/s400/sem+t%C3%ADtulo5.bmp" border="0" /></a><br /><br /><br /><br><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;"></span></strong><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">BRINDE<br /></span></strong><br /><br /><strong>Nuvens correndo num rio</strong><br /><br />Nuvens correndo num rio<br />Quem sabe onde vão parar?<br />Fantasma do meu navio<br />Não corras, vai devagar!<br /><br />Vais por caminhos de bruma<br />Que são caminhos de olvido.<br />Não queiras, ó meu navio,<br />Ser um navio perdido.<br /><br />Sonhos içados ao vento<br />Querem estrelas varejar!<br />Velas do meu pensamento<br />Aonde me quereis levar?<br /><br />Não corras, ó meu navio<br />Navega mais devagar,<br />Que nuvens correndo em rio,<br />Quem sabe onde vão parar?<br /><br />Que este destino em que venho<br />É uma troça tão triste;<br />Um navio que não tenho<br />Num rio que não existe.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Natália Correia)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA<br /></strong></span><br /><br />A minha palmeira é muito porreira eu sei<br />Mas no meu deserto tu foste o oásis que achei<br />Tu ficas louquinha quando tiro a casca à banana<br />Ficas tão tontinha que a tua cauda abana.<br /><br />Refrão: Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti (de banaaaaanaaa)<br />Escondi um cacho debaixo da cama e comi comi (de banaaaanaaa)<br />Minha macaca gira e bacana<br />O teu focinho é que não me engana<br />Pois se a macaca gosta de banana tu gostas de mim<br />Como o macaco gosta de banana eu gosto de tiiiiii<br /><br />Um orangotango transformou um tango num rock<br />É a nova moda que põe Portugal em amok<br />Quem foi ao ataque foi o chimpanzé e o saguini<br />Minha macaquinha, estão apanhadinhos por tiiii, iiii, iiii<br /><br /><span style="font-size:85%;">(José Cid, <em>Como o Macaco Gosta de Banana</em>/<em>Trouxe Comigo Ilusões</em> - Single, Orfeu, 1982)</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:85%;">Eu nem sei como fui capaz! Estava até para ilustrar esta "fava", mas sinceramente preferi não baixar o nível. Podeis ver </span><a href="http://1poucomouco.blogspot.com/2005_11_01_1poucomouco_archive.html"><span style="font-size:85%;">neste blog </span></a><span style="font-size:85%;">a imagem escolhida (basta só andar um pouco para baixo).</span><br /><span style="font-size:85%;">Não me consegui, de forma alguma, inibir de apresentar pelo menos o caminho para tal tesouro.<br /></span>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-25419210576103172232007-02-13T20:55:00.000-06:002008-12-08T21:46:57.055-06:00<span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE<br /></strong></span><br /><br />(…)<br />Ó tramways, funiculares, metropolitanos,<br />Roçai-vos por mim até ao espasmo!<br />Hilla! hilla! hilla-hô!<br />Dai-me gargalhadas em plena cara,<br />Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,<br />Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,<br />Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!<br />Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!<br />Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,<br />As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,<br />Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto<br />E os gestos que faz quando ninguém pode ver!<br />Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,<br />Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome<br />Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos<br />Em crispações absurdas em pleno meio das turbas<br />Nas ruas cheias de encontrões!<br /><br />Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,<br />Que emprega palavrões como palavras usuais,<br />Cujos filhos roubam às portas das mercearias<br />E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto belo e amo-o! –<br />Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.<br />A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa<br />Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.<br />Maravilhosamente gente humana que vive como os cães<br />Que está abaixo de todos os sistemas morais,<br />Para quem nenhuma religião foi feita,<br />Nenhuma arte criada,<br />Nenhuma política destinada para eles!<br />Como eu vos amo a todos, porque sois assim,<br />Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,<br />Inatingíveis por todos os progressos,<br />Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!<br />(…)<br />(Álvaro de Campos, <em>Ode Triunfal</em>, <em>Ficções do Interlúdio</em>, 1914-1935)<br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA<br /></strong></span><br /><br /><strong>Zoologia: A Jibóia</strong><br /><br />Quando a perna do homem entrou<br />na boca da jibóia, o homem<br />tornou-se parte da jibóia. O sangue<br />da perna e as secreções da jibóia<br />tornaram-se parte do mesmo suco<br />digestivo; e quando o homem, com<br />um golpe de faca, cortou<br />o pescoço da jibóia, cortou ao<br />mesmo tempo a sua própria perna. Então,<br />coxeando, o homem entrou na aldeia:<br />branco como a pele da jibóia,<br />engoliu aves, cabritos,<br />e até uma criança distraída… Depois,<br />estendido na praça da aldeia,<br />esperou que outros homens lhe cortassem<br />a barriga, com uma faca: e viu<br />sair de dentro de si<br />as galinhas a cacarejar, os patos<br />a grasnar, e uma criança<br />estremunhada<br />a chorar.<br /><br />(Nuno Júdice, <em>A Fonte da Vida</em>, 1997)<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhuurZinG-gNl1j5YM-isxzzBdalsYKcWSv977lDahyphenhyphenBVmbvjPTBBZagdIxyxUIJwVG6ILMpXtDJ0OhTyKDHPfsZEWXvN6FGWQRsUIYkOBEe-zXJRuv_nltm9KYA6PnuiccW_1zEZj_OA/s1600-h/snow%2520boa%2520female%2520update2.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhuurZinG-gNl1j5YM-isxzzBdalsYKcWSv977lDahyphenhyphenBVmbvjPTBBZagdIxyxUIJwVG6ILMpXtDJ0OhTyKDHPfsZEWXvN6FGWQRsUIYkOBEe-zXJRuv_nltm9KYA6PnuiccW_1zEZj_OA/s400/snow%2520boa%2520female%2520update2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5031126541255640162" /></a>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-13542083511126561612007-02-07T00:38:00.000-06:002008-12-08T21:46:57.231-06:00<div><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE<br /></strong></span><br /><br /><strong>Mitologia<br /></strong><br />Os deuses, noutros tempos, eram nossos<br />Porque entre nós amavam. Afrodite<br />Ao pastor se entregava sob os ramos<br />Que os ciúmes de Hefesto iludiam.<br /><br />Da plumagem do cisne as mãos de Leda,<br />O seu peito mortal, o seu regaço,<br />A semente de Zeus, dóceis, colhiam.<br /><br />Entre o céu e a terra, presidindo<br />Aos amores de humanos e divinos,<br />O sorriso de Apolo refulgia.<br /><br />Quando castos os deuses se tornaram,<br />O grande Pã morreu, e órfãos dele,<br />Os homens não souberam e pecaram.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(José Saramago, <em>Os Poemas Possíveis</em>)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA<br /></strong></span><br /><br /><strong>aquiles e pentesileia<br /></strong><br />o filme desdobra-se entre o relâmpago da morte<br />e o sussurro do mar da cor do vinho.<br />talvez seja o instante da paixão que sangra no destino<br />e sempre nele as vozes se entrelaçam.<br /><br />aquiles e pentesileia comandam <em>gangs</em> rivais<br />nas suas <em>harley davidson</em> reluzentes, vestidos<br />de couro preto e capacetes de viseira.<br />empinam as motos ao longo das dunas ondulantes<br /><br />como cavalos tresloucados entre os sons<br />pesados dos metais, resfolegando.<br />ah, como se ameaçam de morte, enquanto<br />o mar se torna cor de tinta e eles rasgam noite<br /><br />no eriçar dos faróis, no lampejar dos cromados,<br />nos surdos impropérios a desoras.<br />traz os ventos cruéis e sacudidos<br />o ronco musculado dos motores,<br /><br />no cheiro a gasolina. Os olhos traçam<br />a fria precisão da trajectória. é quando<br />aquiles derruba pentesileia, esfaqueando-a<br />com um raio de lua na navalha.<br /><br />um <em>rap</em> sacode o coração oculto<br />da treva nos pinhais. uivam ao longe<br />sereias da polícia e ambulâncias.<br />as amazonas estão petrificadas.<br /><br />desmontam todos e aquiles aproxima-se<br />e num esgar de escárnio arranca o capacete<br />ao corpo inerte envolto em seus gemidos,<br />para lhe ver a face, e um e outro<br /><br />então se reconhecem de repente,<br />ele e pentesileia, lá onde se misturam<br />o sangue e a areia grossa das derrapagens.<br />é quando a dor dos cactos se recorta<br /><br />nas pedras do silêncio. agora a lua<br />impassível desinventa-os na berma<br />e eles beijam-se transtornadamente<br />entre as duas e as três da madrugada,<br /><br />súbitos e devorantes, numa aurora<br />de luto e solidão. Porque eu os vi,<br />ainda os vejo no esvoaçar das luzes<br />pardas do fim da noite e as dunas se encrespavam.<br /><br />a morte lambe os ferros retorcidos,<br />sorvendo gota a gota a cor do rosto,<br />mas tentam dilatar cada segundo.<br />porque os vejo quando o tempo e o espaço<br /><br />se condoem na sua curvatura e são<br />um espasmo apenas de memória e música,<br />de cinza e de soluços lancinantes,<br />de apertos no coração e vozes apagadas,<br /><br />porque deixam de ser no momento em que estão<br />a ser o que os transforma, refaz, identifica,<br />espelham-se nos olhos um do outro<br />e assim inventam uma outra eternidade.<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Vasco Graça Moura, <em>Poesia 1997/2000</em>)<br /></span></div><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGsbnegi2wZmUoangZegO4_ZukU7CCneXmclSw7XtmTBHemKPkjlEh5z58E0HGekO5yVKqMflXgkeZSltdUnii7A7JBqUDJ6gGm-_F8OhvTc-l1q5U4sf3pvrIgVh4ajBxp_h6aKFR3Tw/s1600-h/penthesilea.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5028583564789903426" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGsbnegi2wZmUoangZegO4_ZukU7CCneXmclSw7XtmTBHemKPkjlEh5z58E0HGekO5yVKqMflXgkeZSltdUnii7A7JBqUDJ6gGm-_F8OhvTc-l1q5U4sf3pvrIgVh4ajBxp_h6aKFR3Tw/s400/penthesilea.jpg" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><em><a href="http://www.changeperformingarts.it/Stein/penthesilea_photos.html">Penthesilea</a></em>, Peter SteinSusana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-84248974111000513682007-02-03T12:27:00.000-06:002008-12-08T21:46:57.384-06:00<span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE</span></strong> </span><br /><br /><br />(…)<br /><span style="font-size:130%;">Estendo as mãos para além, mas ao estendê-las já vejo<br />Que não é aquilo que quero aquilo que desejo…<br /></span>(…)<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Fernando Pessoa, Impressões do Crepúsculo, II, 29.III.1913,<br /><em>Ficções do Interlúdio</em> 1914-1935)<br /></span><br /><br /><br /><br />(…)<br /><span style="font-size:130%;">E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,<br />Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,<br />E nada o que se pareça com isso devia ser o sentido da vida…<br /></span>(…)<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Fernando Pessoa, A Casa Branca Nau Preta,<br /><em>Ficções do Interlúdio</em> 1914-1935)<br /></span><br /><br /><br /><br />(…)<br /><span style="font-size:130%;">Pouco usamos do pouco que mal temos</span>.<br />(…)<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Ricardo Reis, Odes, XX,<br /><em>Ficções do Interlúdio</em> 1914-1935)<br /></span><br /><br /><br /><br />(…)<br /><span style="font-size:130%;">Não tenho ambições nem desejos.<br />Ser poeta não é uma ambição minha.<br />É a minha maneira de estar sozinho.</span><br />(…)<br /><br /><span style="font-size:85%;">(Alberto Caeiro, O guardador de Rebanhos, 1911-1912, I,<br /><em>Ficções do Interlúdio</em> 1914-1935)<br /></span><br /><br /><br /><br />(…)<br /><span style="font-size:130%;">Cortei a laranja em duas, e as duas partes não podiam ficar iguais.<br />Para qual fui injusto – eu, que as vou comer a ambas?<br /></span><br /><span style="font-size:85%;">(Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos 1913-1915, Ontem o pregador de verdades dele,<br /><em>Ficções do Interlúdio</em> 1914-1935)<br /></span><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA<br /></span></strong><br />Esta pérola chegou-me já há algum tempo por e-mail. Como achei que era das raras, decidi guardar; daria uma bela jóia um dia mais tarde :) E aqui está ela!<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjvGeMMq3IehNvMAsWyec911alRIjsVV2M8qn78hzH5cA4krmgO3Xme5qPngq1JCWW2UYmyypU32bOAEKsj8QkAQOSYc-OxrF-KYZNxvc60jeN7duauU_TBH-4xVhcziry3o0yPD7xWYA/s1600-h/anuncio+atouguia+da+baleia.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5027281631353466930" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjvGeMMq3IehNvMAsWyec911alRIjsVV2M8qn78hzH5cA4krmgO3Xme5qPngq1JCWW2UYmyypU32bOAEKsj8QkAQOSYc-OxrF-KYZNxvc60jeN7duauU_TBH-4xVhcziry3o0yPD7xWYA/s400/anuncio+atouguia+da+baleia.jpg" border="0" /></a><br /><br /><span style="font-size:180%;"></span>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-11793939919205044322007-01-27T12:05:00.000-06:002008-12-08T21:46:57.514-06:00<strong><span style="font-size:180%;">BRINDE</span></strong>… (…a dobrar: as mulheres de Cesário)<br /><br /><br /><strong>Frígida<br /></strong><br />Balzac é meu rival, minha senhora inglesa!<br />Eu quero-a porque odeio as carnações redondas!<br />Mas ele eternizou-lhe a singular beleza<br />E eu turbo-me ao deter seus olhos cor das ondas.<br /><br />Admiro-a. A sua longa e plácida estatura<br />Expõe a majestade austera dos Invernos.<br />Não cora no seu todo a tímida candura;<br />Dançam a paz dos céus e o assombro dos infernos.<br /><br />Eu vejo-a caminhar, fleumática, irritante,<br />Numa das mãos franzindo um lenço de cambraia!...<br />Ninguém me prende assim, fúnebre, extravagante,<br />Quando arregaça e ondula a preguiçosa saia!<br /><br />Ouso esperar, talvez, que o seu amor me acoite,<br />Mas nunca a fitarei duma maneira franca;<br />Traz o esplendor do Dia e a palidez da Noite,<br />É, como o Sol, dourada, e, como a Lua, branca!<br /><br />Pudesse-me eu prostrar, num meditado impulso,<br />Ó gélida mulher bizarramente estranha,<br />E trémulo depor os lábios no seu pulso,<br />Entre a macia luva e o punho de bretanha!...<br /><br />Cintila ao seu rosto a lucidez das jóias.<br />Ao encarar consigo, a fantasia pasma;<br />Pausadamente lembra o silvo das jibóias<br />E a marcha demorada e muda dum fantasma.<br /><br />Metálica visão que Charles Baudelaire<br />Sonhou e pressentiu nos seus delírios mornos,<br />Permita que eu lhe adule a distinção que fere,<br />As curvas da magreza e o lustre dos adornos!<br /><br />Desliza como um astro, um astro que declina;<br />Tão descansada e firme é que me desvaria,<br />E tem a lentidão duma corveta fina<br />Que nobremente vá num mar de calmaria.<br /><br />Não me imagine um doido. Eu vivo como um monge,<br />No bosque das ficções, ó grande flor do Norte!<br />E, ao persegui-la, penso acompanhar de longe<br />O sossegado espectro angélico da Morte!<br /><br />O seu vagar oculta uma elasticidade<br />Que deve dar um gosto amargo e deleitoso,<br />E a sua glacial impassibilidade<br />Exalta o meu desejo e irrita o meu nervoso.<br /><br />Porém, não arderei aos seus contactos frios,<br />E não me enroscará nos serpentinos braços:<br />Receio suportar febrões e calafrios;<br />Adoro no seu corpo os movimentos lassos.<br /><br />E se uma vez me abrisse o colo transparente,<br />E me osculasse, enfim, flexível e submissa,<br />Eu julgaria ouvir alguém, agudamente,<br />Nas trevas, a cortar pedaços de cortiça!<br /><br /><br /><br /><strong>Lúbrica<br /></strong><br />Mandaste-me dizer,<br />No teu bilhete ardente,<br />Que hás-de por mim morrer,<br />Morrer muito contente.<br /><br />Lançaste no papel<br />As mais lascivas frases;<br />A carta era um papel<br />De cenas de rapazes!<br /><br />Ó cálida mulher,<br />Teus dedos delicados<br />Traçaram do prazer<br />Os quadros depravados!<br /><br />Contudo, um teu olhar<br />É muito mais fogoso,<br />Que a febre epistolar<br />Do teu bilhete ansioso:<br /><br />Do teu rostinho oval<br />Os olhos tão nefandos<br />Traduzem menos mal<br />Os vícios execrandos.<br /><br />Teus olhos sensuais<br />Libidinosa Marta,<br />Teus olhos dizem mais<br />Que a tua própria carta.<br /><br />As grandes comoções<br />Tu, neles, sempre espelhas;<br />São lúbricas paixões<br />As vívidas centelhas...<br /><br />Teus olhos imorais,<br />Mulher, que me dissecas,<br />Teus olhos dizem mais,<br />Que muitas bibliotecas!<br /><br />(Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde)<br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA<br /></strong></span><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBxBtxhYp0zT6GF1mwVGvUV278yJR2bziKHWFvSgcvIiz-DArkH9iiWcd3-sxX7a7kubPuhNQ8cLU6UiDX2BDH4lvCvgteHAymJRfGXHSoCJSrErhHSOStBvdYEaZV5JWSnAiq3zdSZBs/s1600-h/sem+título.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5024678611268868162" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBxBtxhYp0zT6GF1mwVGvUV278yJR2bziKHWFvSgcvIiz-DArkH9iiWcd3-sxX7a7kubPuhNQ8cLU6UiDX2BDH4lvCvgteHAymJRfGXHSoCJSrErhHSOStBvdYEaZV5JWSnAiq3zdSZBs/s400/sem+t%C3%ADtulo.bmp" border="0" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />Não faltará aqui uma vírgula no slogan, entre o <em>não</em> e o <em>obrigada</em>? Ou este cartaz também é, de certa forma, a favor do <em>sim</em>?Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-11869349402567156382007-01-23T14:19:00.000-06:002008-12-08T21:46:57.705-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqKyrmbvjo6Ch__ztk7V89bHegRTU4ETc4npnMy5eZWS5kOLNA_N_7JyojlKKaCWN1jKx9kI-pN52AAKLWVVZ6Q1ypnML4nWkV2cuVut3KD5pk6nAc3r2aLltcJORHhZfqCpY_v2Z5foc/s1600-h/ondas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5023228265237518386" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqKyrmbvjo6Ch__ztk7V89bHegRTU4ETc4npnMy5eZWS5kOLNA_N_7JyojlKKaCWN1jKx9kI-pN52AAKLWVVZ6Q1ypnML4nWkV2cuVut3KD5pk6nAc3r2aLltcJORHhZfqCpY_v2Z5foc/s400/ondas.jpg" border="0" /></a><br /><br><br /><br><br /><br><br /><br><br /><br><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE</strong></span><br /><br /><br />Sobre a areia os vestígios deixados pelas ondas agrestes...<br /><br />Conchas partidas e ocas,<br /><br />Búzios de curvas solitários,<br /><br />Estrelas do mar vermelhas e partidas,<br /><br />Pedras coloridas e multiformes.<br /><br />São como pegadas difusas a caminho do mar, sem maré que as leve.<br /><br /><br />(<em><a href="http://codigodbarras.blogspot.com/2006/04/sobre-areia-os-vestgios-deixados-pelas.html">Ariadne</a></em>, 04.02.2006.<br />Porque alguns poetas desconhecidos merecem mesmo ser lidos...)<br /><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA<br /></span></strong><br /><br /><strong>aliás: uma homenagem</strong><br /><br />aliás, estava uma cómoda d. josé mal estacionada<br />numa paragem de autocarro<br />das avenidas novas. os táxis, os automóveis particulares,<br />os próprios autocarros, desviavam-se respeitosamente<br />do abaulado objecto. as pessoas não ligavam<br />grande importância àquilo.<br />nenhum arrumador intonso e<br />semidrogado ousou riscar-lhe o polimento<br />por falta de gorjeta. e nenhum<br />polícia de giro entalou o papelinho da multa<br />entre uma gaveta e o seu encaixe. a polícia<br />com este governo civilizou-se imenso:<br />passou a saber o que é uma cómoda d. josé,<br />a não interferir na decoração dos exteriores urbanos<br />e sobretudo a compreender que uma peça de pau-santo,<br />volumosamente acetinada, bem brunida e sem rodas,<br />não pode deslocar-se facilmente para a berma,<br />onde aliás ficaria muito melhor.<br /><br />mas a situação era estranha, mesmo<br />muito estranha: ainda se se tratasse<br />de uma credência chippendale no terreiro do<br />paço, de uma aparador d. maria na praça<br />do município, até de uma <em>chaise-longue</em>,<br />de uma <em>chaise-longue</em><br />com madame récamier ou sem madame récamier<br />refestelada em rosa e cinza,<br />na estufa fria, as coisas seriam de uma evidência<br />bem mais clara, aliás, basta pensar que a estufa<br />fria tem luminosidades vegetais e sombras<br />pardas e castanhas pondo malhas<br />imponderáveis na atmosfera,<br />como no quadro de jaques-louis david, deixando<br />intacta a personagem.<br />mas na verdade,<br />nem sequer estava ali um contador com os seus<br />caprichos de ebúrneo entalhe e enxamblamento,<br />testemunho indo-português de um passado<br />mais recuado e convenhamos, bem mais glorioso,<br />enfim, nenhuma coisa de plausível normalidade,<br />digamos, médio-burguesa e ornamental.<br /><br />por isso um jornalista dos mais típicos, sem<br />aliás contestar a situação, aliás benéfica para as avenidas<br />novas e <em>ipso facto</em> para a cidade, lembrou-se<br />de telefonar a josé-augusto frança perguntando<br />que razões haveria<br />para aquela insólita presença. “ - muito simples”, respondeu<br />o mestre, cruzando a cintilação racional<br />da arquitectura iluminista e a sua própria trajectória<br />pelo surrealismo com um simpático sorriso:<br />“fica provado que,<br />mesmo fora da baixa,<br />lisboa é pombalina”.<br /><br />(Vasco Graça Moura, <em>Poesia 1997/2000</em>, <em>Poemas com Pessoas</em>)Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-79563724084554210162007-01-17T00:27:00.000-06:002008-12-08T21:46:57.907-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0GVNbghyphenhyphensdGrNj_9OlHSUmzy0bD8ZcQhJSOrTtVrT-nb_GqRx2U6xAKHfubFnk7BSVeS-ObGYV9cofw8l3UJuS5YkMpOu61rqLHG6gJt8S_600TkjlNMmYj8lw60uILpjS72aJ-ue8iM/s1600-h/rose-in-glass.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5020784880860341426" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0GVNbghyphenhyphensdGrNj_9OlHSUmzy0bD8ZcQhJSOrTtVrT-nb_GqRx2U6xAKHfubFnk7BSVeS-ObGYV9cofw8l3UJuS5YkMpOu61rqLHG6gJt8S_600TkjlNMmYj8lw60uILpjS72aJ-ue8iM/s400/rose-in-glass.jpg" border="0" /></a><br /><div><strong><span style="font-size:180%;">BRINDE<br /></span></strong><br /><br /><strong>Cristo-Báquico<br /></strong><br />Nasceu na terra como as fontes<br />misturado com os animais<br />que irreprimíveis pelos montes<br />se dão nas luas casuais.<br /><br />Do bicho à boca<br />da boca à fome<br />dos animais que os bichos comem,<br />subiu mais alto. Até ao homem<br />com fome e sede no seu caminho.<br />E ele era o pão. E ele era o vinho.<br />Porque era a taça servindo o sangue<br />que lhe batia no coração.<br /><br />Da sua carne brotou<br />em flor Maria Madalena<br />e amando-a nela se mostrou<br />ele mesmo em beleza de fêmea.<br /><br />A impiedade o esmagou<br />com o peso da divindade;<br />Preço que aos vendilhões pagou<br />para ser príncipe de outra verdade.<br /><br />Os espinhos da rosa mais nocturna<br />em seu corpo de lírio se cravaram.<br />E os dedos da estrela mais soturna<br />a fronte pura lhe enodoaram.<br />Mas espinhos e dedos perfumou<br />com o cheiro que da terra trazia<br />porque na carne crucificada<br />era Diónisos que ria.<br /><br />(Natália Correia, <em>Poemas</em>, 1955)<br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA<br /></strong></span><br /><br /><strong>Cópula<br /></strong><br />No prado, onde as vacas, imóveis,<br />esperam a passagem do comboio, ouve-se um ruído<br />de ramagens fustigadas pelo vento. Não sei se<br />é o outono que chega, ou se o verão ainda resiste<br />à chegada da breve estação. No entanto,<br />o comboio demora-se; e a vaca que não quis<br />esperar parou no meio da linha, com uma raiz<br />metafísica que se meteu na terra e a prendeu, impedin-<br />do-a de fugir à investida da locomotiva. (O<br />resultado, meses depois, foi um bezerro<br />a vapor).<br /><br />(Nuno Júdice, <em>A Fonte da Vida</em>, 1997)</div>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-60794811083639304012007-01-13T13:48:00.000-06:002008-12-08T21:46:58.092-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKX4p53OEx76Rmiz7y44rnvAUZ_idwC3scgh_fqJTjRQ_K4qRnkU8ws-JDAHU-WPDEYHstqlF4tKr6Y8PWr1g7tKKTLOhrEFvMbTankU-FFRk0_4hFw3fTvCv2nN_yZTAQttPTuyGKPXU/s1600-h/173468502_765f0f344d_m.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5019510903366034594" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKX4p53OEx76Rmiz7y44rnvAUZ_idwC3scgh_fqJTjRQ_K4qRnkU8ws-JDAHU-WPDEYHstqlF4tKr6Y8PWr1g7tKKTLOhrEFvMbTankU-FFRk0_4hFw3fTvCv2nN_yZTAQttPTuyGKPXU/s400/173468502_765f0f344d_m.jpg" border="0" /></a><br /><div><strong><span style="font-size:180%;">BRINDE<br /></span></strong><br /><br /><strong>Padrão<br /></strong><br />O esforço é grande e o homem é pequeno.<br />Eu, Diogo Cão, navegador, deixei<br />Este padrão ao pé do areal moreno<br />E para diante naveguei.<br /><br />A alma é divina e a obra é imperfeita.<br />Este padrão sinala ao vento e aos céus<br />Que, da obra ousada, é minha a parte feita:<br />O por-fazer é só com Deus.<br /><br />E ao imenso e possível oceano<br />Ensinam estas Quinas, que aqui vês,<br />Que o mar com fim será grego ou romano:<br />O mar sem fim é português.<br /><br />E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma<br />E faz a febre em mim de navegar<br />Só encontrará de Deus na eterna calma<br />O porto sempre por achar.<br /><br />(Fernando Pessoa, <em>Mensagem</em>)<br /><br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA<br /></span></strong><br /><br />A menstruação quando na cidade passava<br />o ar. As raparigas respirando,<br />comendo figos - e a menstruação quando na cidade<br />corria o tempo pelo ar.<br />Eram cravos na neve. As raparigas<br />riam, gritavam - e as figueiras soprando de dentro<br />os figos, com seus pulmões de esponja<br />branca. E as raparigas<br />comiam cravos pelo ar.<br />E elas riam na neve e gritavam: era<br />o tempo da menstruação.<br /><br />As maçãs resvalavam na casa.<br />Alguém falava: neve. A noite vinha<br />partir a cabeça das estátuas, e as maçãs<br />resvalavam no telhado – alguém<br />falava: sangue.<br />Na casa, elas riam - e a menstruação<br />corria pelas cavernas brancas das esponjas,<br />e partiam-se as cabeças das estátuas.<br />Cravos - era alguém que falava assim.<br />E as raparigas respirando, comendo<br />figos na neve.<br />Alguém falava: maçãs. E era o tempo.<br /><br />O sangue escorria dos pescoços de granito,<br />a criança abatia a boca negra<br />sobre a neve nos figos - e elas gritavam<br />na sombra da casa.<br />Alguém falava: sangue, tempo.<br /><br />As figueiras sopravam no ar que<br />corria, as máquinas amavam. E um peixe<br />percorrendo, como uma antiga palavra<br />sensível, a página desse amor.<br />E alguém falava: é a neve.<br />As raparigas riam dentro da menstruação,<br />comendo neve. As cabeças das<br />estátuas estavam cheias de cravos,<br />e as crianças abatiam a boca negra sobre<br />os gritos. A noite vinha pelo ar,<br />na sombra resvalavam as maçãs.<br />E era o tempo.<br />E elas riam no ar, comendo<br />a noite,<br />alimentando-se de figos e de neve.<br />E alguém falava: crianças.<br />E a menstruação escorria em silêncio –<br />na noite, na neve –<br />espremida das esponjas brancas, lá na noite<br />das raparigas<br />que riam na sombra da casa, resvalando,<br />comendo cravos. E alguém falava:<br />é um peixe percorrendo a página de um amor<br />antigo. E as raparigas<br />gritavam.<br /><br />As vacas então espreitando,<br />e nos focinhos consumia-se o lume em silêncio.<br />Pelas janelas os violinos<br />passavam pelo ar. E a menstruação nas raparigas<br />escorria pela sombra, e elas<br />gritavam e comiam areia. Alguém falava:<br />fogo. E as vacas passavam pelos violinos.<br />E as janelas em silêncio escorriam<br />o seu fogo. E as admiráveis<br />raparigas cantavam a sua canção, como<br />uma palavra antiga escorrendo<br />numa página pela neve,<br />coroada de figos. E no fogo as crianças<br />eram tocadas pelo tempo da menstruação.<br /><br />Alimentavam-se apenas de figos e de areia.<br />E pelo tempo fora,<br />riam - e a neve cobria a sua página de tempo,<br />e as vacas resvalavam na sombra.<br />Em silêncio o seu lume escorria das esponjas.<br />Partiam-se as cabeças dos violinos.<br />As raparigas, cantando as suas crianças,<br />comiam figos.<br />A noite comia areia.<br />E eram cravos nas cavernas brancas.<br />Menstruação - falava alguém. O ar passava –<br />e pela noite, em silêncio,<br /><br />a menstruação escorria pela neve.<br /><br />(Herberto Helder, <em>A Máquina Lírica</em>, 1964)</div>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-65692471008033046812007-01-07T10:35:00.000-06:002008-12-08T21:46:58.263-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixQ_rpteF94VRCSYY705rm7Zz0_d2ufZU98OwnFocPNgADUuk_GrqCPEe6F9n4pDGVHsQrhs9ERQ1r4Le0N6-WQP3MFEX7Q5UrjYzk9_jasrZ6qSE8tgWxyVOzSrXUcA1ZaEXvnG6JhlU/s1600-h/timeu.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5017016731815488418" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixQ_rpteF94VRCSYY705rm7Zz0_d2ufZU98OwnFocPNgADUuk_GrqCPEe6F9n4pDGVHsQrhs9ERQ1r4Le0N6-WQP3MFEX7Q5UrjYzk9_jasrZ6qSE8tgWxyVOzSrXUcA1ZaEXvnG6JhlU/s400/timeu.jpg" border="0" /></a><br /><br /><div align="justify"><strong><span style="font-size:180%;">BRINDE<br /></span></strong><br /><br /><strong>Timeu -</strong> Imitando a figura do todo, que é redonda, prenderam os circuitos divinos, que são dois, dentro de um corpo esférico, aquele a que agora chamamos cabeça, que é a parte mais divina, que domina sobre todas as partes que há em nós; e à qual os deuses deram a totalidade do corpo, como seu servo, unindo-a a ele, prevendo que ela participasse em todos os movimentos que viesse a haver. E assim, a fim de que não andasse a rolar sobre a terra, que está cheia de elevações e depressões de todo o género, com dificuldade em trepar a umas e em sair de outras, deram-lhe o corpo como veículo e meio de adequada deslocação. Daí que o corpo se tenha tornado comprido, tendo crescido nele quatro membros extensíveis e flexíveis, produzidos pelo deus com vista à deslocação; por forma a que, servindo-se deles para agarrar e se apoiar, se lhe tornasse possível deslocar-se por toda a parte, transportando ao alto a morada daquilo que há em nós de mais divino e sagrado.<br /><br />(Platão, <em>Timeu</em>, 44d-e;<br />trad. Maria José Figueiredo, Instituto Piaget, 2004)<br /><br /><br /><br /><br /><br><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA<br /></span></strong><br /><br />Como se uma estrela hidráulica arrebatada das poças,<br />Tu sim deslumbras, Por coroação:<br />por regiões activas de levantamento:<br />por azougue da cabeça,<br />Brilhas pela testa acima,<br />Ceptro: potência – ah sempre que o chão crepita<br />dos charcos de ouro,<br />E no corpo trancado a veias<br />e nervos: o sangue que se afunda e faz tremer<br />tudo, Tocas<br />com um arrepio de unha a unha<br />o mundo, Pontada<br />que te abre e aumenta<br />ou<br />- onde se um troço dessa massa<br />intestina: e como respirada: às queimaduras<br />primitivas – Boca:<br />sexo: viveza<br />das tripas: uma glândula que te move<br />ao centro, Amadureces como um ovo,<br />Na traça carnal: todo<br />com um golpe com muita força para dentro<br /><br />(Herberto Helder, <em>A cabeça entre as mãos</em>, 1982)</div>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-44210981054250381342007-01-03T00:09:00.000-06:002008-12-08T21:46:58.357-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFoZU4gXQPixvjr3bf-GTyY9-Lh1ePCVHgPo3rQlsLrDk9DwxEpy76gt8sza33DnFQAqgjxV7w543WXv1oiAGcUrNd_t-Eai4NKj-MdeuWyV-VddAj0M1x2xtMm4MOe7sUqZClYwKaYn8/s1600-h/Full-Moon-Photograph-C10101072.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5015474770310749858" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFoZU4gXQPixvjr3bf-GTyY9-Lh1ePCVHgPo3rQlsLrDk9DwxEpy76gt8sza33DnFQAqgjxV7w543WXv1oiAGcUrNd_t-Eai4NKj-MdeuWyV-VddAj0M1x2xtMm4MOe7sUqZClYwKaYn8/s400/Full-Moon-Photograph-C10101072.jpg" border="0" /></a><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE</strong><br /></span><br />Para ser grande, sê inteiro: nada<br />Teu exagera ou exclui.<br />Sê todo em cada coisa. Põe quanto és<br />No mínimo que fazes,<br />Assim em cada lago a lua toda<br />Brilha, porque alta vive.<br /><br />(Ricardo Reis, Odes e outros poemas, 136, 14.2.1933)<br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-size:180%;"><strong>FAVA</strong> </span><br /><br /><strong>água do luso</strong><br /><br />em criança eu bebia água do luso,<br />quando não, “- só se bebe água fervida”,<br />recomendavam os meus pais. escuso<br />de misturar groselha hoje à bebida.<br /><br />a garrafa de quarto era vendida<br />sem ter forma de rosca ou parafuso,<br />sem ser de frouxo plástico, polida,<br />de vidro grosso já com marcas de uso.<br /><br />vejo um nítido foco no seu halo<br />Intenso e luminoso e o copo de água<br />sobre o tampo da mesa, concentrando<br /><br />algum raio de sol a atravessá-lo<br />como lente de aumento, há muito. trago-a<br />a queimar o papel, de vez em quando.<br /><br />(Vasco Graça Moura, Poesia 1997 - 2000)Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-75702972958768837302006-12-27T12:22:00.000-06:002008-12-08T21:46:58.514-06:00<span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE</strong><br /></span><br />Ao longe, ao luar,<br />No rio uma vela,<br />Serena a passar,<br />Que é que me revela?<br /><br />Não sei, mas meu ser<br />Tornou-se-me estranho,<br />E eu sonho sem ver<br />Os sonhos que tenho.<br /><br />Que angústia me enlaça?<br />Que amor não se explica?<br />É a vela que passa<br />Na noite que fica.<br /><br />(Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio 1914-1935)<br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA</span><br /></strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK_2bES1NI-QDthaWON2SyHqnFTRkE5XE_69Hn2D1R6pUBUk6kriYaRki1Gejlp4w69yAQbFFvWtLOns8lZY6wgtVkSrCBNJ_0be9NlIodk6gTexd_S5xDPt9SDqb5yi5eCzf8SwBsHq4/s1600-h/GARRAFEIRAnew.BMP"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK_2bES1NI-QDthaWON2SyHqnFTRkE5XE_69Hn2D1R6pUBUk6kriYaRki1Gejlp4w69yAQbFFvWtLOns8lZY6wgtVkSrCBNJ_0be9NlIodk6gTexd_S5xDPt9SDqb5yi5eCzf8SwBsHq4/s400/GARRAFEIRAnew.BMP" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5013732639721178178" /></a><br /><br><br />Pois é, no café da minha zona também se conseguem estas pérolas!Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-58406917506725669882006-12-23T18:07:00.000-06:002008-12-08T21:46:58.598-06:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0d5UyIzbF-NLmO8AfmHAxn8I9NPkvmFPUVLGL0N7KXCNZR1Lj1VJbcLDt00Q1ykNAUYbhMAMcBVtTGVt-lQbKPJZT41CVPucNwetAPK5aNt8iaCazmo9u07D1FIg05x9lRNTlPjcerY8/s1600-h/HPIM0201.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0d5UyIzbF-NLmO8AfmHAxn8I9NPkvmFPUVLGL0N7KXCNZR1Lj1VJbcLDt00Q1ykNAUYbhMAMcBVtTGVt-lQbKPJZT41CVPucNwetAPK5aNt8iaCazmo9u07D1FIg05x9lRNTlPjcerY8/s400/HPIM0201.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5011785426103223314" /></a>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8195539331205367970.post-72538075819521468392006-12-23T17:56:00.000-06:002007-01-02T10:02:03.830-06:00<span style="font-family:georgia;"><span style="font-size:180%;"><strong>BRINDE</strong></span><br /><br /><strong>Pelo sonho é que vamos</strong><br /><br />Pelo sonho é que vamos<br />comovidos e mudos.<br />Chegamos? Não chegamos?<br />Haja ou não haja frutos,<br />pelo sonho é que vamos.<br /><br />Basta a fé no que temos.<br />Basta a esperança naquilo<br />que talvez não teremos.<br />Basta que a alma demos,<br />com a mesma alegria,<br />ao que desconhecemos<br />e ao que é do dia-a-dia.<br /><br />Chegamos? Não chegamos?<br /><br />Partimos. Vamos. Somos. (Sebastião da Gama)<br /><br /><br /><br /><br /><strong><span style="font-size:180%;">FAVA</span></strong><br /><br /><strong>expo'98</strong><br /><br />"-você dá-me um cigarro?", disse a musa<br />de repente a meu lado. os cabelos escorriam água.<br />e a testa e as faces. toda ela. olhei-a interrogativo. "-é.<br /><br />estou muito ruisselante. desculpe o galicismo".<br />e piscou-me o olho enquanto acendia o cigarro<br />no meu isqueiro lesto. a <em>t-shirt </em>encharcada<br /><br />demorava-se nos seus contornos íntimos, acerava-lhe<br />os bicos dos peitos pelos meus olhos dentro.<br />rosetas de bronze húmido. enfim, suponho. os jeans e os<br /><br />ténis deviam pesar imenso. tinha as ancas bem desenhadas.<br />expeliu uma baforada. o umbigo estava à mostra acima<br />da fivela do cinto. viu que eu olhava ainda. sorriu.<br /><br />encolheu os ombros. apontou para a azinhaga das águas tumultuantes.<br />havia lá mais gente a espadanar sem ter tirado a roupa.<br />os pais, as mães, os querubins do lar.<br /><br />tinha passado para este lado da imagem. estava ao pé de mim.<br />"foi ali", disse, "agora preciso de uma corrente de ar".<br />quando olhei, tinha desaparecido. as musas são assim,<br /><br />lustrais, perladas, elásticas e jovens.<br />pedem-nos lume, dão-nos fumo e partem logo. ficam as<br />notas pessoais: expo. sol, água e vento. gazela do deserto.<br />(Vasco Graça Moura, Poesia 1997-2000) </span>Susana Alveshttp://www.blogger.com/profile/12207552183292302574noreply@blogger.com3